A carreira da mulher é muito diferente e mais penosa do que a carreira dos homens. A princípio pode parecer um comentário feminista e conservador ao mesmo tempo, mas a consistência dos argumentos que pretendo colocar neste artigo mostrará que ela é bem mais complexa do que a miopia de um mercado de trabalho ainda muito masculinizado.
O primeiro impacto mais relevante foi quando decidi ter meu segundo filho em um momento profissional de consolidação e por outro lado, um momento econômico do país muito sensível e frágil. A mulher quando próxima dos 40 anos precisa tomar decisões pessoais e profissionais muito difíceis. O tempo e a natureza não esperam o momento certo para construir uma família. A idade da mulher chega e ela tem que decidir pelo sim ou pelo não, no que se refere ao plano de ser mãe. Conheço muitas profissionais que abriram mão deste sonho da maternidade em prol do planejamento de carreira e velam diariamente esta frustração que não volta mais. Por isso, acho extremamente relevante dar uma chance e correr o risco, mesmo ciente de todo o preço que isso possa custar.
As profissionais que conseguem gerenciar de forma saudável e relativamente equilibrada a relação maternidade x carreira, desenvolvem competências relacionadas à inteligência emocional, gerenciamento do tempo e liderança acima de média da população masculina. A neurociência confirma que a estrutura do cérebro das mulheres é alterada com a gravidez, talvez de forma irreversível. O cérebro da mulher se adapta para reconhecer rapidamente os sinais não verbais do bebê e atender suas necessidades.
A mulher atual vai adiando o planejamento familiar em prol das demandas recorrentes do âmbito de carreira. Desta forma, ela acaba decidindo ter filhos no momento mais delicado da carreira que é exatamente quando precisa de toda a energia e preparo para investir em sua ascensão. E é justamente por isso que a “pausa”, melhor definida como uma “estagnação profissional consciente” pode ser benéfica para o equilíbrio emocional que ela tanto precisa para gerar uma sociedade psicologicamente saudável.
Por isso, é extremamente importante que a profissional que toma a decisão de ser mãe e também tenha o desejo de investir em uma carreira sólida, aceite o fato de que PAUSAR e NÃO SE COBRAR demasiadamente neste momento é benéfico inclusive para sua própria vida profissional. Muitas vezes, saber o seu limite é o que mais a nossa sociedade necessita no mundo de hoje. LIMITAR E PRIORIZAR!
Sempre que um profissional vem se aconselhar comigo e se queixa das falhas da organização ou dos problemas que a vida lhe traz, pergunto:
– Sabe qual é o único lugar perfeito que um indivíduo já esteve em sua vida toda? O útero materno!
A partir do nascimento, o bebê se depara com o seu primeiro trauma e precisa se adaptar às imperfeições que o mundo lhes presenteia!
Agora, se o mundo é imperfeito por natureza, como faremos para lidar com isso? Como compensar e aceitar as diversas formas de superar os desafios e problemas cotidianos?
É claro que a resposta não é simples e objetiva, mas adianto que a CONSCIÊNCIA sobre os nossos atos e o AUTOCONHECIMENTO nos trarão uma boa dose de conforto e felicidade! Viver uma vida consciente, livre de ciladas compensatórias e ter o equilíbrio para pagar o preço das nossas decisões, nos trará grande serenidade e paz interior.
Voltando um pouco ao tema da carreira feminina, reforço:
Se a mulher tiver a sabedoria para gerenciar a “PAUSA” na carreira, permitindo-se curtir sua maternidade com amor e dedicação, isso irá inclusive beneficia-la profissionalmente, desenvolvendo capacidades evolutivas que só ela conseguirá. Esse será o maior e mais complexo MBA que a vida poderá lhe oferecer – “SER MÃE”.
Devemos aceitar que não dá para ser tudo para todos, que ser mãe e profissional ao mesmo tempo, não significa vestir a fantasia da “mulher-maravilha”. Encarar esta realidade já é um grande passo para assumir as imperfeições do mundo e trazer um pouco de paz interior no grande turbilhão que é a carreira da mulher!
Rose Kurdoglian