A Grandeza da Humildade

humildadePara falarmos sobre humildade é necessário primeiramente definirmos o termo arrogância e seus motivadores. O pensador inglês Bertrand Russel (1872-1970) dizia que nenhum homem está livre se não ousar ver qual é o seu lugar no mundo. Nenhum homem pode atingir a grandeza do que é capaz até que se tenha permitido ver a sua pequenez.

Ora, seguindo os pensamentos do ilustre filósofo, podemos entender que o arrogante, pelo fato de não ter a capacidade de se olhar no espelho objetivamente, cria uma imagem de si alterada e se relaciona com o mundo de forma egoísta e obsessiva. A arrogância é a primeira demonstração de insegurança em desvendar seu verdadeiro “eu” (self). Não ouço para não saber a verdade, não elogio para não mostrar minha submissão, digo que sou o “melhor”, pois não suporto ver minhas deficiências, preciso “ter poder” para tentar “ser feliz”. O arrogante segue um caminho solitário e vazio. Ele não se aprofunda nas relações afetivas para que o outro não descubra suas fraquezas, ele não admite um erro para não admitir sua própria baixa auto-estima, ele adere a comportamentos obsessivos para evitar a reflexão e o pensamento crítico.

Pensar criticamente é saber sustentar as opiniões com argumentos sólidos e não cometer falácias nem basear as opiniões em jogos de palavras e em maus argumentos de autoridade. Segundo Desidério Murcho (2010), o pensamento crítico implica a tolerância e o respeito, que tanta falta fazem no mundo contemporâneo. O pensamento crítico exige uma postura de cordialidade atenta, pois temos de escutar cuidadosamente os argumentos das outras pessoas para, juntos, encontrarmos argumentos melhores e soluções mais adequadas.

De acordo com o professor Cortela, doutor em filosofia pela Puc-SP, felizmente não nascemos prontos. Nós nos recriamos a cada dia. O problema do arrogante é que ele, pelo fato de ser incapaz de utilizar o pensamento crítico, crê que já tenha nascido pronto.  Portanto, por que devo aprender? Por que devo ouvir? Por que devo tolerar?

Enquanto a humildade resiliente é um sinal de saúde psíquica, a arrogância é o início do comportamento anti-social. Ele bloqueia a inteligência inter e intra-pessoal, levando o indivíduo a um aprisionamento da sua verdadeira personalidade. Como não suporto ser eu mesmo, vou me afastar do mundo objetivo e criar um mundo só meu, com meus próprios personagens e crenças. Neste reino de fantasias, o indivíduo perde a interação social saudável e caminha para um comportamento psicótico, podendo chegar a situações extremas como o que popularmente conhecemos como “surto psicótico”.

O objetivo deste artigo não é julgar e sim questionar o quanto é possível criar consciência sobre o comportamento arrogante. Todos nós tendemos a expressar sinais de arrogância em nosso dia-a-dia. Sinais estes como a tentativa de demonstrarmos que somos superiores utilizando-nos de roupas de grife, carros potentes ou até mesmo diferenciarmos o tratamento dado às pessoas as quais nos relacionamos conforme seu nível sócio-econômico. A falta de respeito no trânsito, de cuidado com o problema alheio, a esquiva com relação aos grandes problemas sociais, o julgamento preconceituoso da sociedade consumista onde você é o que você tem, são exemplos claros deste comportamento em nossa sociedade.  Até onde vai nossa arrogância? O próprio fato de criarmos perfis para cargos dentro de uma empresa pode ser classificado como um aspecto de arrogância. Por que o perfil de vendas sempre deverá seguir este padrão? Há uma única verdade? Devo ser o meu cargo ou devo seguir o propósito maior da organização que participo? Como gestor, aprendo ou ensino? Falo ou ouço? Delego ou executo? A única saída para estes questionamentos é a prática da resiliência.

Sabe-se que o princípio da resiliência é encontrar o meio termo. Resiliência significa flexibilidade em se moldar a uma realidade presente. É agir com assertividade no momento necessário. A humildade resiliente é saber agir no momento certo, sem necessariamente precisar aparecer publicamente ou divulgar o próprio feito. Sabe-se quem você é objetivamente e suas capacidades pessoais, entretanto, sabe-se ainda que cada dia será um aprendizado e uma recriação do próprio ser. O auto conhecimento e o reconhecimento de sua própria ignorância em meio ao universo de possibilidades em que vivemos são formas saudáveis de se defender do vício que é o comportamento arrogante.

 De que adianta demonstrar algo que não se é?

Como dizia uma grande amiga e conselheira, Aparecida Natale, a autenticidade é o principal ingrediente da auto-realização e conseqüentemente, o propósito da vida humana.

Conhecer a si mesmo passa a ser, portanto, um desafio diário e interminável.

Rose Kurdoglian

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Rose Kurdoglian

Psicóloga, formada pela Universidade Mackenzie, com especialização em Psicologia da Personalidade e Administração de Empresas pela instituição inglesa IBAM- Institute of Business Administration and Management.

11 comentários em “A Grandeza da Humildade”

  1. Rose, texto providencial, daqueles que nos faz pensar. Obrigada e continue nos presenteando com as idéias maravilhosas que saem da sua cabecinha maravilhosa! Talvez o “ser eternamente insatisfeita” seja uma característica boa, para que estejamos todos os dias em busca de algo novo, sem nos esquecer da humildade resiliente… adorei! Beijos, Ana

  2. Paz e Amor do Senhor Jesus, Jesus te Ama!
    Gostaria de conhecer o seu ponto de vista relativamente ao orgulho de ser humilde…. também existe a percepção de que as pessoas que se mostram humildes são ao mesmo tempo arrogantes… pois elas, ao buscar a perfeição, já estão se achando mais perfeitas relativamente aos que são arrogantes e não estão buscando essa perfeição. Eu tenho vivido isso… e realmente estou num processo de olhar para mim mesma e me achar eu mesma arrogante… porque percebi que as pessoas veem isso em mim! Ser verdadeiramente humilde é muito complicado. A gente começa a perceber certas coisas e deseja partilhar e se revelar ao mundo e com essa atitude já vai parecer arrogante. Acho que ser verdadeiramente humilde passa por sermos apagados e passa por não querer aparecer. Será?

  3. É muito bom ver uma jovem tão competente e que em nada apresenta os sinais de arrogância, pois escreve de maneira simples, clara e objetivamente.
    Seu texto me fez refletir e foi ao encontro ao que precisa “ouvir”.
    Realmente precisamos nos assumir, analisando nossos pontos fracos para que assim possamos ser pessoas mais felizes e sociáveis.

  4. Rose, estou amando seus textos.

    Não são todos que tem a coragem de serem críticos e reflexivos contra a maré.

    Fez um bem enorme a minha alma :)))

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