Primeiramente gostaria de pedir desculpas aos meus leitores fiéis pela negligência em escrever novos artigos. O ritmo desenfreado da rotina paulistana e minha recorrente procrastinação resultaram na demora em lançar o 10° artigo deste blog.
Tenho recebido solicitações para discursar sobre um assunto muito comentado nas redes sociais e facilmente percebido pelo senso comum – a importância dos relacionamentos para a carreira.
Antes de abordar os resultados que as relações sociais poderiam trazer para a ascensão profissional, seria válido promover uma reflexão sobre o princípio das relações humanas. Levantemos alguns questionamentos ilustrativos para este princípio:
O fato de pertencer a uma rede social extensa potencializa o crescimento profissional?
O que seria necessariamente a capacidade de se relacionar com o outro ou a conhecida inteligência Interpessoal?
Martin Buber (1878 – 1965), doutor em filosofia em Berlim, educado pela tradicional cultura judaica, nos ensina que o princípio do relacionamento genuíno está na reciprocidade, no diálogo autêntico entre duas pessoas, onde cada um é para o outro um parceiro num acontecimento da vida, mesmo sendo este um adversário.
(…) “A única coisa importante é que, para cada um dos dois homens, o outro aconteça como este outro determinado; que cada um dos dois se torne consciente do outro de tal forma que precisamente por isso assuma para com ele um comportamento, que não o considere e não o trate como seu objeto, mas como seu parceiro num acontecimento da vida, mesmo que seja apenas uma luta de boxe”. (BUBER, 1982, p.138).
Assim como o sucesso profissional depende da autorealização, o relacionamento tem como premissa a reciprocidade. Além disso, tanto o relacionamento como a autorealização, partem do princípio da autenticidade. Portanto, é a capacidade de ser autêntico que realiza verdadeiramente o ser humano e que proporciona um relacionamento genuíno.
(…) “Se nos tempos primitivos a pressuposição do ser-homem deu-se através da retidão da sua postura ao caminhar, a realização do ser-homem só pode dar-se através da retidão da alma no seu caminhar, através de uma grande honestidade que não é mais afetada por nenhuma aparência, já que ela venceu a simulação”. (BUBER, 1982, p.143).
Traduzindo para uma realidade existente, somos cúmplices de pseudo-relacionamentos onde o que importa é a imagem transmitida ao outro e a capacidade de convencê-lo de que esta ilusão é verdadeira. Assumindo o mesmo papel, o outro esforça-se para criar uma imagem idealizada de si seguindo os mesmos interesses do parceiro. Neste sentido, vizualizamos uma rede fictícia de relacionamentos superficiais onde a imagem idealizada do outro é apenas um objeto, ou um meio para atingir objetivos e metas individualistas.
Olhando para fora da janela, observamos exemplos vivos do que acontece no mundo moderno. Problemas conjuguais entre recém casados, instabilidade constante em empregos, solidão e a doença do século – depressão. Este sentimento de frustração surge da decepção do ser humano em descobrir que o que está vendo e se relacionando é apenas um jogo de imagens e que as relações verdadeiras pertencem aos contos infantis e histórias em quadrinho.
O objetivo deste artigo não é gerar uma visão pessimista dos relacionamentos interpessoais, mas promover uma reflexão sobre o diálogo genuíno e a capacidade de modificar nossa postura frente a maneira como nos posicionamos na sociedade. A ética, muito defendida nas relações profissionais, deveria ser levada mais a sério. Deixar de lutar por uma causa própria e pensar no bem do outro, na reciprocidade e na empatia verdadeira, são formas de vencer os problemas de uma sociedade extremamente imediatista e individualista.
O mundo ao nosso redor é transformado e recriado conforme a postura pessoal assumida. Esta atitude é traduzida para um cenário onde o “coletivo” substitui a singularidade, o receber abre portas para o “doar” e o hoje fornece espaço para um ” futuro” de crescimento e amadurecimento pessoal.
Em conclusão, a mensagem que pretendemos atingir com este artigo, é indubitavelmente a confirmação da importância dos relacionamentos para determinar o sucesso na carreira das pessoas. Entretanto, buscamos com este artigo, acima de tudo, alertar, ou tornar conscientes os pseudo-relacionamentos. Quando o interesse pessoal supera a amizade e o contato profissional, o objetivo de potencializar o crescimento fornece espaço para uma disputa egóica sem fundamento.
“O homem é antropologicamente existente não no seu isolamento, mas na integridade da relação entre homem e homem: é somente a reciprocidade da ação que possibilita a compreensão adequada da natureza humana”. (BUBER, 1982, p.152).